O petróleo ganhou muita importância nas exportações do Brasil para os Estados Unidos - um país tradicionalmente comprador de produtos manufaturados brasileiros. Em apenas quatro anos, as vendas de petróleo para os EUA cresceram dez vezes em valor, saltando de US$ 330 milhões em 2004 para US$ 3,1 bilhões em 2007, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento. Esse montante é equivalente a quase metade do superávit total de US$ 6,3 bilhões do Brasil com os americanos em 2007. Dois fatores influenciaram o resultado: o aumento das exportações de petróleo em quantidade e a explosão dos preços.
A participação do petróleo nas exportações brasileiras para o mercado americano, que não ultrapassava 2% em 2004, chegou a 12,5% em 2007. O combustível ocupou o posto de principal produto na pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos em 2006 e 2007. No ano passado, o petróleo superou em US$ 1,3 bilhão as vendas de aviões para os americanos. Enquanto as exportações de petróleo para os EUA cresceram 60% em 2007 em relação a 2006, os embarques totais do Brasil para esse destino avançaram apenas 2,2%.
Os Estados Unidos quase dobraram a quantidade de petróleo que compraram do Brasil em quatro anos. Conforme o Departamento de Energia do governo americano, as importações de petróleo brasileiro saíram de 104 mil barris por dia em 2004 para 202 mil barris por dia em 2007. Mesmo assim, o país ainda é um fornecedor tímido e representa apenas 1% do petróleo importado pelos EUA.
Segundo a Petrobras, as exportações totais de petróleo bruto, em quantidade, ficaram estáveis em 2006 e 2007, pouco acima de 120 milhões de barris por ano. O volume de vendas para os EUA, no entanto, cresceu 20% no ano passado, atingindo 67 milhões de barris - metade das vendas totais. Esse desempenho foi possível devido à redução dos volumes exportados para outros países, notadamente para os asiáticos. "A principal razão é que o mercado norte-americano está pagando melhor pelo tipo de petróleo que exportamos, além do frete ser mais barato", informou a empresa por meio de uma nota.
De acordo com Fábio Brandão, diretor da consultoria Petroleum Industry Research Associates (PIRA), sediada em Nova York, os EUA são um "cliente natural" para o Brasil. Além da proximidade geográfica que barateia o frete, ele explica que os americanos possuem o maior parque mundial de processamento de petróleo pesado - o mesmo que é produzido pelo Brasil. Já a capacidade de refino da Ásia para esse tipo de óleo é menor. Os EUA investiram em petróleo pesado, porque boa parte de seu suprimento vem do México e da Venezuela, países vizinhos que possuem amplas reservas desse tipo de óleo.
No mesmo período em que o Brasil aumentou as vendas para os EUA, a Venezuela reduziu os embarques para aquele mercado. As exportações da Venezuela para os Estados Unidos caíram 12%, de 1,554 milhão de barris por dia para 1,362 milhão entre 2004 e 2007. A Venezuela é um fornecedor importante de petróleo para os EUA, respondendo por cerca de 10% das importações totais. Alguns motivos explicam a redução das vendas da Venezuela para os EUA: queda na produção, diversificação de clientes, como a China, e atendimento prioritário para países aliados, como Cuba e Nicarágua.
O nível de produção da Venezuela é uma polêmica. Conforme a BP Statistical Review, uma das fontes mais confiáveis do setor, a produção de petróleo da Venezuela caiu 3,9% em 2006 em relação a 2005, para 2,8 milhões de barris por dia. Em relação a 2000, a queda chega a 13%. O governo venezuelano nega essa informação. O Brasil segue tendência contrária. Embora tenha estagnado em 2007, a produção brasileira de petróleo cresceu 43% entre 2000 e 2006 para 1,809 milhão de barris/dia. Com exceção dos grandes produtores da Opep e das ex-repúblicas da União Soviética, é um dos países que a produção de petróleo mais aumenta no mundo.
Apesar das desavenças dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e dos Estados Unidos, George W. Bush, os especialistas dizem que as compras de petróleo dificilmente seguem critérios políticos. "O petróleo é uma commodity. Para as refinarias, é indiferente se vem do país A ou B", diz. Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o petróleo é um mercado de "oportunidade" e "alta liquidez". Ele diz que é normal que o Brasil aumente as vendas para os EUA na medida em que eleva suas exportações, já que os americanos são os maiores consumidores mundiais.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a crescente importância do petróleo provoca uma "commoditização" da pauta de exportação do Brasil para os EUA, o maior mercado do mundo e o maior cliente do país no exterior. Graças ao impulso do petróleo, a fatia dos produtos básicos no comércio bilateral subiu de 6% em 2004 para 9,4% em 2007.
"É ótimo exportar petróleo a US$ 120 o barril. O problema está no fraco desempenho do resto", diz Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Os manufaturados reduziram sua participação nas vendas para os EUA de 28% em 2004 para 19% em 2007. A demanda está mais fraca no mercado americano devido à crise financeira. Além disso, as indústrias brasileiras tiveram a competitividade abalada pela valorização do real. As vendas de calçados para os EUA, por exemplo, recuaram de US$ 1 bilhão em 2004 para US$ 720 milhões em 2007.
No primeiro trimestre deste ano, o Brasil apurou superávit de apenas US$ 477 milhões com os Estados Unidos, uma queda de 79% em relação a janeiro a março de 2006. Excluídos os US$ 509 milhões de petróleo vendidos no trimestre, esse resultado se transformaria em déficit de US$ 32 milhões. Neste início de ano, o petróleo ocupa o segundo lugar no ranking de produtos vendidos pelo Brasil aos EUA, porque as exportações brasileiras de petróleo estão em queda de forma generalizada. No primeiro trimestre, os embarques de petróleo do país caíram, em valores, 8% para o mundo e 3% para os EUA.
O Brasil deve registrar um déficit na balança comercial de petróleo e derivados de US$ 8 bilhões com o mundo em 2008, de acordo com estimativas da RC Consultores e do banco Bradesco. Fábio Silveira, economista da RC, explica que "o perfil da oferta de petróleo do Brasil é desalinhado com a demanda". Enquanto exporta petróleo pesado e gasolina, o país importa petróleo leve, diesel e nafta. O Brasil não tem capacidade de refino suficiente para todo seu petróleo pesado.
Valor Econômico
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